sábado, 25 de abril de 2015

LANÇAMENTOS


LANÇAMENTOS

No Rincão onde cruzei, há tempos passados, trabalhava-se muito. Apesar do trabalho também sempre havia tempo a tantas histórias escutar. Num dia de pescaria à beira do rio, um caboclo morador da redondeza, contador de histórias, surgiu pedindo licença pra pescar, entre uma fisgada e outra, entre um causo e outro, começou a comentar um contrafeito acontecimento. Desculpando-se assim foi falando: -“Se me permite, uma coisa te conto, esta vida não é mole; de regular tamanho era essa conhecida prole, -assim foi dizendo. Como era de costume um ou outro membro familiar sempre tinha algum causo a repassar aos mais jovens ou a quem quisesse escutar e, com certeza, haveria de chegar o dia que algum ou alguns destes, por sua vez iria repassar memórias para outros, sobretudo aos da geração subseqüente. - O amigo, ali sentado, acendeu um cigarro de palha, deu uma baforada forte na fumaça do palheiro, uma cuspida grande e continuou a contar a história que seguia desse jeito: - Há não muitos anos passados um afoito proprietário de área rural, cujo nome era Juvenal, trabalhava de sol a sol e como não seria difícil de prever, o referido empreendimento desenvolveu muito economicamente. Com a prosperidade as inerentes dificuldades de executar e compreender a complexidade burocrática, a natural sistemática econômico-financeira de gestão e o devido acompanhamento, como por exemplo, a freqüente e obrigatória visita junto à rede bancária, repartições, fornecedores e outras tantas e necessárias eventualidades mais. Para não estorvar o trabalho e evitar atrapalho - assim pensou Juvenal; decidido proprietário rural. – Não posso ficar perdido  nem confundido neste calor ao sabor de tantos números e inúmeros documentos, valores, elementos que mais tarde poderão trazer dissabores e prevenindo para não ter de contra-atacar vou indo a tentar contratar a escrita para o meu negócio continuar crescendo. Direto do campo, mais precisamente da lavoura foi o mesmo então ao encontro de um profissional qual se chamava “guarda-livros”. Lá chegando deu boa caprichada na fala, dizendo: - antes que esses papéis virem ninho de rato, faço-lhe este relato: -Meu compadre!, são tantos os créditos que nem acredito nem posso deixar prescrito, não sou de enxugar gelo, tenho zelo e desconheço os modelos mas de modo a não bulir, evitando quebrar os pratos com o povo de fino trato, trago todos os extratos; sei, fácil não está, isso eu sei, mas poderá facilitar se acreditar e remanejar, mesmo reeditar os tais réditos e por ventura em paralelo quando revelar débito, não vamos enrolar não, com cautela vamos rolar em suaves e paralelas parcelas – pagamento à prestação como se diz lá no rincão. Também não querendo ser bicudo, mas se puxar no bico do lápis com certeza esse haver às avessas haverá de chegar ao final, afinal tudo um dia tem de ter fim, já dizia o compadre Serafim, este, plantador de amendoim. Assim como é do meu costume, na minha escrita também quero ‘estar por cima’, ademais sei que não é minha sina andar ‘por baixo’ não será agora que vou perder o juízo e deixar por prejuízo ajuizarem qualquer contenda de causa, espero que entenda, claro, quero evitar aviltar de modos a não redundar numa pendenga de causa grande.  Não foi sem causa que, pulei na frente, lá em casa até já bati com a língua nos dentes ao dizer que confio plenamente em gente como a gente e com certeza, hábil no setor contábil, mesmo porque assim preciso parar com os ranços. Quero descanso, no meu rancho poder cuidar dos meus gansos e na roça andar de carroça e na grota plantar mandioca, também outras sementes e de repente acalmar e igualmente plantar boas sementes na minha mente. Nunca fui de dormir fora de hora, porém, na hora que eu for dormir - lá fora -, dentro de casa, quero estar no ponto, pronto e descansado chega de contenda e fuxicos de esquina contados na venda da Joaquina; terceirizo essa demanda antes que se extravie o prejuízo, vou preocupar cuidar da prenda e do meu gado na fazenda e, aí sim, vai ficar melhor que encomenda. Será passei no crivo pra candidatar a arranjar um guarda-livros? Assim ganho tempo quero seguir em frente e se daqui pra diante surgir novidade, compadre, seja no assobio, mas sem tardio bote recado no rádio ou solte o verbo, ponha a mão no apito, ou verbal ou por escrito mas prenda o grito, que venho cá na cidade ver minha contabilidade, tenho dito!”. - Esta é uma história que sempre no dia do contabilista ( hoje ) me vem à memória.

 
 

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